terça-feira, 23 de agosto de 2011

AS DEBUTANTES



AS DEBUTANTES

Clube Recreativo ( hoje não existe mais ) promovia uma vez por ano o Baile das Debutantes. Era a apresentação formal, à sociedade, das lindas meninas para seu primeiro baile. Elas tinham em torno de 16 anos.
           Já com alguns meses de antecedência, a cidade ficava na expectativa – quem seriam elas, como seriam seus vestidos, como seria o baile, com qual orquestra, qual a costureira estaria fazendo o vestido de quem?
           A confecção dos vestidos era uma obra de arte a cargo de oficinas de costura comandadas por  Isaura Pereira, que costurava para noivas e debutantes; Zilda Pereira Portugal, costureira e bordadeira, Filhinha Carlomagno, costureira; Alcides Carlomagno, bordadeira e Arlinda Pereira Carlomagno, costureira.  Essas três últimas trabalhavam juntas. Os vestidos eram sempre muito lindos e com caimento perfeito.
           Enfim chegava o grande dia. Os rapazes vestiam seus melhores ternos, perfumavam-se com esmero e penteavam seus cabelos de acordo com a moda. Os sapatos eram  engraxados com capricho. E lá iam todos.
           O Clube decorado, iluminado e totalmente lotado. As moças vinham acompanhadas pelos pais e irmãos. Todas tinham mesas reservadas e o baile começava.
           Por volta da meia noite as debutantes eram apresentadas à sociedade, uma a uma, sempre por um artista famoso da televisão. Geralmente a primeira valsa era dançada com os pais e nós, jovens mortais, ficávamos olhando para depois cada um, descompromissado, ir até as mesas e pedir licença para os pais para tirar a menina para dançar. Vi muitos namoros iniciados nesses bailes de debutantes transformarem-se em casamentos.
           O baile tinha um belo bar que era tocado pelo Augustinho Limberti que preparava um sanduiche de pão de forma sem casca com presunto e queijo que é inesquecível. Naquela época dificilmente bebia-se cerveja. Dava-se preferência por Cuba-libre, Gin Tônica, Whiskie ou Martini.
           As debutantes vestiam-se de branco e o salão ficava totalmente colorido. Certamente muitas famílias possuem fotos daqueles bailes. Quem as possui devem enviá-las ao jornal para perpetuar essa memória. São fotos que atualmente não existem mais,mas que fazem parte de nossa história, principalmente, da história de vida de muita gente.
           Dizem que recordar é viver mas, mais do que isso, é mostrar o que fomos e como era nossa vida porque, sem passado não há presente e muito menos projeção para o futuro. É com a soma de tudo o que fazemos ou vivemos que vamos criando nossa cultura. Sempre seremos fruto daquilo que foi vivido no passado.  Um bom passado é um feliz presente e sem medo do futuro.
           E por falar em passado, há dias atrás tive a grata e emocionante satisfação de receber de meu querido amigo e professor Manoel Pacheco Jr., que atualmente reside em Campo Grande, o livro de sua autoria denominado Moleque.
           A leitura provocou em mim momentos saudosos e grandes gargalhadas, pois também tive um Chico Mandioca como vizinho, entre outras coisas iguais.
           Na verdade, só um gênio como meu professor seria capaz de fazer, nos seus 80 anos de vida, revolver dentro de si o menino Mané.
  SAMIR GERAIGIRE

Nenhum comentário:

Postar um comentário